domingo, 26 de junho de 2011

Por uma materialidade dos softwares sociais


Neste contexto, se anuncia um olhar invertido, sob a óptica da disseminação da informação e outras possibilidades de construção do conhecimento, ou seja, qualquer pessoa “a partir de sua própria vivência e não a partir da vivência privilegiada de outrem” (MARTINS, 2002 apud ABREU JR., 2005) tem a possibilidade de interagir no/com o ciberespaço (meio e mediador) produzindo outras formas de pensar e construir conhecimento.
Sob essa “voz” (relato) do “homem ordinário” (CERTAU, 2008) ou “homem comum” (ALVES, 2011) reflito também com Santos e Riccio (2011, p. 1) a ressignificação do termo autonomia em espaçoatempos de cibercultura quando afirmam:
Ao contrário, a autonomia aqui é entendida, com base nas concepções de Castoriadis (2000) e Freire (2006), como uma troca com o outro, numa busca coletiva de assunção de si mesmo como autor e como sujeito crítico capaz não só de compreender o mundo, mas também de transformá-lo, visando também a autoria do outro, num processo de retroalimetação constante e sem fim, de colaborações e autorias.
Ao habitar este ciberespaço na perspectiva de um “homem comum” compartilho este “não lugar” que “testemunha as condições de inventividade e originalidade” (CERTAU, 2008) das mobilizações que ocorrem via microblog Twitter, Facebook, e-mails entre outros softwares sociais a exemplo dos casos apresentados no site http://www.inovadoresespm.com.br/2011/03/a-era-da-transparencia-mobilizacoes-de-uma-geracao-conectada/ dos Inovadores ESPM (Figura 1). Nesta página a manchete selecionada trouxe um artigo sobre as possibilidades de conexões que cada vez mais conseguimos reinventar com o uso dos softwares digitais, provocando a disseminação das informações e a mobilização de diferentes segmentos da sociedade, ou seja, àqueles
conectados tem a oportunidade de refletir e discutir coletivamente sobre vários assuntos tornados públicos; o estímulo a cidadania através da adoção da transparência, do respeito à democracia e o exercício da administração pública colaborativa.

Figura 1: site dos Inovadores ESPM.
Este “homem comum” se torna real na figura de homens e mulheres, crianças, jovens, adultos e idosos que buscam, produzem, discutem informações e conhecimentos. Como no exemplo, desta mensagem na interface do microblog Twitter da figura 2, onde um internauta busca informações sobre o ocorrido numa escola pública no município do Rio de Janeiro. Importante notar que viver esse fenômeno da cibercultura implica em estar aberto para o bem ou para mal, trazidos na citação de Maffesoli (1998) num parágrafo acima, pois o planejamento e a articulação deste caso verídico ocorreram na fração do espaçotempo do ciberespaço, em sites, jogos, blogs e também no espaço físico do bairro, da escola, nas salas de aula.
Figura 2: um post do Twitter.

Observando um dos links da mensagem do internauta conseguimos compreender as “práticas linguísticas cotidianas (e o espaço de suas táticas)” (CERTAU, 2008, p. 81) que são capazes de revelar uma circunscrição “informacional navegável (ciberespaço)” e “provocar a imersão tanto mais profunda, quanto mais o espaço é capaz de envolver o usuário tridimensionalmente” (SANTAELLA, 2004, p. 45-46).
Figura 3: Blog do Mauricio Stycer.

Desta forma, a linguagem hipermídia (SANTAELLA, 2004) funciona como o meio que viabiliza, ou “instrumentos mediadores, nas ideias de Vygotsky (2008), que estão alinhadas com as de Lévy (2004) quando este afirma que as tecnologias intelectuais apoiadas pelo ciberespaço ampliam, exteriorizam e alteram muitas funções cognitivas humanas como: a memória (bancos de dados e hipertextos), a imaginação (simulações), a percepção (ambientes interativos e imersivos) e os raciocínios (inteligência artificial)” (COSTA e MARINS, 2011).
Neste “não lugar” que se move com a sutileza do ciberespaço em Certau (2008, p. 183) compreenderemos a mobilidade dessa memória que se altera de acordo com os enunciados (percursos) emergentes num discurso (verbalizado, sonhado ou andado) que segue a organização de um conjunto circunstancial.
Alguns usos do Twitter
Na busca do Twitter digitei a palavra escola numa aventura de ver os comentários relacionados. De fato, alunos revelavam o quanto se sentiam excluídos do que acontecia no mundo dentro dos muros da escola. Nesta primeira tweet (comentário publicado no Twitter)
de Smile_Restart (figura 4), a autora nos trouxe em seu texto um hipertexto inusitado de um site http://tumblr.com/xue28ni5wm. Neste site, vimos o perfil de outra jovem que apresentava seus hobbys e sua falta de prazer na escola, vinculada para seus interlocutores com a criação de hiper-sintaxes (SANTAELLA, 2005) pertencentes a linguagem hipermidiática, onde a animação, o vídeo, a foto, texto, hipertexto, formas em multi-luz-cor, sombras, se manifestam permitindo ao leitor imersivo uma interação propositada ou aventurosa com ela, cooperando na sua realização.
Figura 4: Conversa de estudantes no Twitter.

Nas arquiteturas líquidas da hipermídia (MARCOS NOVAK, 1993 apud SANTAELLA, 2005), tanto a autora do site (figuras 5 e 6) como a autora do tweet (figura 4), uma das co-autoras da primeira, através de um "roteiro multilinear, multi-sequencial, multi-sígnico (palavras, imagens, textos, documentos, sons, ruídos, músicas, vídeo) e labiríntico" construído interativamente com outros internautas fizeram emergir as reflexões de alunos sejam em relação as práticas escolares ou pelos seus anseios em encontrar pares às suas ideias.
Figura 5: Site citado na conversa dos estudantes.

Figura 6: Site citado na conversa dos estudantes.

Tudo isto foi tão orquestrado passando pela resignificação de dois conceitos, o da mobilização de grupos escolares, de fato saindo dos limites das avenidas, condições de transporte, sensibilização de seus pares através das telecomunicações (telefone, satélites, cabo), do texto escrito (livros, periódicos científicos, jornais, revistas), do audiovisual (televisão, vídeo, cinema) e da informática (computadores e programas informáticos) para que todas essas interlocuções acontecessem em maior potência pelas hipermídias, reconhecida como uma nova linguagem em busca de si mesma como se referiu Santaella (2005) em seus estudos sobre as matrizes da linguagem e pensamento. No que tange a sua essência interativa e dialógica em outros contextos educacionais vimos que a estrutura linguística ultrapassa as fronteiras da geografia física e do idioma sendo constituindo uma possível rede de relacionamento social que logo se inseriu ou acolheu a tantas outras pelo mundo afora para expressar uma realidade local.
O segundo conceito foi o de espaçotempo sob a perspectiva dos alunos que mobilizaram seus pares sobre o que acontece de interessante fora dos muros da escola. Neste momento, proponho uma reflexão sobre o conteúdo apresentado nos materiais didáticos impressos, que transitavam entre os conhecimentos locais e o globais sendo projetados para o mundo globalizado em fração de segundos (SANTOS, B. 1997) com acontecimentos de dentro e fora do ciberespaço alterando (CERTAU, 2008), atualizando (LÉVY, 1996) a memória e os sentidos humanos, através da linguagem hipermidiática que o "desloca de seus contextos, fragmentando e desestruturando as referências semânticas e históricas em que seus sentidos se conectavam" (SANTAELLA, 2005, p. 391).
Desta forma, os usos que essa geração digital, que não precisou ficar presa ao desktop, enquanto sua mente estava em movimento, nos traz a partir da mobilidade dos notebooks, netbooks, tablets, celulares entre outras hipermídias outros processos cognitivos, devido a variada ordem de estímulos neurológicos ao qual estão suscetíveis o tempo todo. Nos tweets da figura 7 esta interatividade foi discutida pelas internautas.
Figura 7: A interatividade presente na vida dos nativos digitais.
Vamos continuar nossa conversa com suas reflexões sobre essas construções acima e outras que você pode socializar por aqui?

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